OS EFEITOS NOCIVOS DAS DROGAS
Acompanhe a seguir uma série de drogas, seus efeitos, com reconhecer um viciado e ainda uma conclusão show de bola.
MACONHA
Nome dado no Brasil para uma planta chamada Cannabis sativa. É extraída do cânhamo, planta da família das Moráceas, originária da Ásia e conhecida no Oriente com o nome árabe de hashishin.
Difundida na América Central sob o nome de marijuana e la soñadora, não são bem claros os conhecimentos toxicológicos a seu respeito. Sobre seu princípio ativo dizem alguns autores tratar-se do canabinol, isolado de extratos ou da rezina da planta. Parece possível afirmar que a maconha não é entorpecente, não produzindo sono, mesmo ligeiro, e levando apenas a um estado de excitação dependente da quantidade e da qualidade da droga, usada sob a forma de cigarro ("baseado" ou "dólar") ou em cachimbo do tipo narguilé, só que mais curto. THC, princípio ativo da maconha, corresponde a apenas 1% de seu peso. Assim em 1 grama de erva há cerca de 10 miligramas do princípio ativo. (No Haxixe, uma variedade da maconha, a concentração de THC é maior.) Praticamente, a maconha não oferece nenhum tipo de risco em relação a overdose, mas usada a longo prazo causa perda de motivação
COCAÍNA
COCAÍNA
A coca, cujo princípio ativo é a cocaína, é extraído da planta da família das eritroxiláceas, Erythroxylon coca, originária da América do Sul, é usada desde tempos imemoriais pelos indígenas desde o norte da Argentina, onde é conhecida sobre o nome de acullico,+ até próximo da América Central e Vale do Amazonas. Para obtenção desta droga, os produtores maceram folhas de coca junto com água. Em seguida misturam solventes (querosene ou gasolina) e ácido sulfúrico. A partir dessas substâncias consegue-se separar a cocaína, que em seguida passa por um processo para secagem. Dessa forma é obtida uma pasta básica, tratada com éter, acetona e ácido clorídrico. Esta droga pode ser injetada, numa mistura com água destilada, ou aspirada (o efeito de uma "carreira" dura de trinta minutos a uma hora; um dependente moderado, consome 3 gramas por dia).
CRACK
Até pouco tempo atrás era uma das drogas mais consumidas, mas devido a forte dependência causada por esta, está sendo menos utilizada no momento. O CRACK é o produto da cocaína com uma substância básica, como bicarbonato de sódio ou bicarbonato de amônia. A combinação faz com que a droga se cristalize, podendo ser colocada no cachimbo e fumada, ao contrário da cocaína, que ao ser aquecida se decompõe. Quando em combustão, no cachimbo, o cristal faz um "crack". Daí o barulho ter se transformado no nome da droga. Vicia com uma rapidez impressionante: após quinze dias de uso algumas pessoas apresentam alto nível de dependência. Uma pedra, que contém, em média 1 grama, dá um "barato" intenso, que dura de três a 10 minutos . Comparada à cocaína, o crack tem um custo inferior, por isso, um dos alucinógenos mais consumidos, principalmente em São Paulo. Após o vício, a conseqüência mais temível do "crack" é o alto risco de overdose.
CRACK
Até pouco tempo atrás era uma das drogas mais consumidas, mas devido a forte dependência causada por esta, está sendo menos utilizada no momento. O CRACK é o produto da cocaína com uma substância básica, como bicarbonato de sódio ou bicarbonato de amônia. A combinação faz com que a droga se cristalize, podendo ser colocada no cachimbo e fumada, ao contrário da cocaína, que ao ser aquecida se decompõe. Quando em combustão, no cachimbo, o cristal faz um "crack". Daí o barulho ter se transformado no nome da droga. Vicia com uma rapidez impressionante: após quinze dias de uso algumas pessoas apresentam alto nível de dependência. Uma pedra, que contém, em média 1 grama, dá um "barato" intenso, que dura de três a 10 minutos . Comparada à cocaína, o crack tem um custo inferior, por isso, um dos alucinógenos mais consumidos, principalmente em São Paulo. Após o vício, a conseqüência mais temível do "crack" é o alto risco de overdose.
HEROÍNA
Parte do grupo dos opiáceos, deriva da papoula (Papaver somnífera) e origina o ópio e a morfina. A papoula é considerada um dos maiores males da humanidade, tendo mesmo motivado verdadeiras guerras de domínio e arrastado às condições mais miseráveis países inteiros. Contra o uso de morfina e heroína, os países civilizados fundam organizações internacionais, políticas, policiais e sanitárias. Seu emprego como agente medicamentoso foi regulamentado, e nenhuma prescrição médica de entorpecente é hoje feita sem rigoroso controle. A heroína pode ser aspirada, injetada ou fumada. Produz um entorpecimento agradável. Após semanas de uso intenso a pessoa torna-se viciada. Libertar-se da dependência física e psicológica é muito difícil: além do mais, a abstinência provoca fortes dores no corpo. No Brasil, embora esse alucinógeno esteja circulando com freqüência, são raros seus viciados. Custa cerca de dez vezes mais do que a cocaína.
ALUCINÓGENOS/LSD
LSD - Ácido Lisérgico. Produzido pela primeira vez por um químico, na Suíça, em 1938. Sobre um pedaço de papel, uma dose de apenas 25 microgramas é suficiente para uma "Viagem" de uma noite inteira (só para ter uma idéia, um selo de correio pesa 60.000 microgramas). O micro-ponto custa 25 dólares.
TRANQUILIZANTES
Uma das drogas mais consumidas no Brasil, já que as pessoas conseguem comprá-las sem receitas médicas. Contém substâncias como o diazepam, que provoca efeitos similares ao álcool: desinibição e loquacidade, seguidas de sonolência. Custam menos que a cocaína.
ANFETAMINA
A anfetamina vem sendo utilizada ultimamente para a composição de fórmulas para emagrecer, já que ela desestimula a fome. Fora do Brasil ela pode ser encontrada também como um pó branco, o qual é geralmente misturada ao bicarbonato de sódio. Pode ser aspirada, engolida ou injetada.
ÁLCOOL
É a droga mais consumida pelos adolescentes. Até porque ela é legal, quer dizer, ninguém precisa se esconder da polícia para beber. Em muitos barzinhos, mesmo que a venda de bebidas alcoólicas seja proibida para menores de 18 anos, é possível descolar um chope ou uma tequila. Cerca de 5% dos jovens brasileiros entre 9 e 18 anos (perto de 1 milhão e meio de pessoas) exageram na dose regularmente. Embora muitos acreditem que uma caipirinha possa funcionar como um aditivo para se ficar muito alegre, porém o álcool é na verdade um depressor do sistema nervoso central.
INALANTES OU SOLVENTES
São quimicamente conhecidos como hidrocarbonetos, presentes numa porção de produtos comerciais como colas, tintas, gasolina, removedores, vernizes e esmaltes.Utilizados principalmente por crianças de ruas por serem de fácil acesso.
XAROPES
Existem remédios para combater a tosse a base de uma substância conhecida como codeína, que podem viciar. Isso porque a codeína não diminue a tosse apenas, mas, também agem no cérebro provocando calma, relaxamentos e sonolência. Quando tomada em doses mais altas do que as receitadas pelos médicos.
XAROPES
Existem remédios para combater a tosse a base de uma substância conhecida como codeína, que podem viciar. Isso porque a codeína não diminue a tosse apenas, mas, também agem no cérebro provocando calma, relaxamentos e sonolência. Quando tomada em doses mais altas do que as receitadas pelos médicos.
REAÇÕES E DEPENDÊNCIAS DAS DROGAS
MACONHA
Relaxante muscular e depressora do sistema nervoso, ela provoca uma sensação de bem-estar e uma alteração na percepção do tempo. De acordo com pesquisas, menos de 10% dos usuários da maconha tornam-se dependentes. Os efeitos são diferentes, dependendo da pessoa - algumas ficam angustiadas, atordoadas, trêmulas, suando muito e com medo de perder o controle dos próprios atos.
A maconha também prejudica a memória, o bom senso e a capacidade de saber se o que se está fazendo é perigoso ou não. Aumentando a dose ou ainda dependendo da sensibilidade de quem a usa, pode provocar delírios e alucinações - a pessoa começa a fazer um juízo errado do que vê ou escuta e passa a ter mania de perseguição.
Quando a droga é usada por tempo prolongado podem surgir também problemas nos pulmões, como bronquite - lembrando também que o cigarro comum é outro que a provoca. Já os homens podem sofrer ainda outras conseqüências: está provado que a maconha diminui de testosterona (hormônio masculino) em até 60 %, complicando a fertilidade, já que a queda da testosterona diminui o número de espermatozóides.
COCAÍNA
Os efeitos aparecem em poucos segundos. Depois que a cocaína chega ao cérebro provoca uma sensação de alegria intensa e muito poder. O mundo fica "brilhante", o cansaço e o desânimo vão embora. Mas isso acaba em pouquíssimo tempo. A partir daí surgem os maiores problemas. Cada vez que a droga perde o efeito, vem a depressão, o cansaço e um mal-estar extremamente desagradável. Para sair dessa, começa-se tudo de novo, ou seja, outra carreira ou injeção. É por isso que a pessoa passa a viver em função da droga.
Aumentando a dose ou a freqüência do uso, a cocaína pode provocar irritação constante, muita agressividade, delírios e alucinações. Um dos problemas mais sérios é que ela faz o coração disparar (taquicardia), já que aumenta a pressão do sangue. Em casos de overdose (dose muito grande) , a taquicardia é tão forte que o coração não agüenta e pára. Se a pessoa não for socorrida a tempo, a conseqüência é só uma: MORTE.
ALUCINÓGENOS/LSD
ALUCINÓGENOS/LSD
Extremamente perigoso, o LSD eleva muito a percepção do usuário, por isso não é consumido diariamente.
Faz a pessoa perder a noção da realidade e provoca fortes alucinações.
TRANQUILIZANTES
Deixam o cérebro trabalhando em baixa rotação, por isso diminuem a ansiedade levando ao sono e ao relaxamento muscular. Quando misturados com álcool provocam muitos danos. Imagine só o perigo de se usar não apenas uma, mas duas drogas agindo ao mesmo tempo no cérebro! Aí está um "coquetel" que pode levar uma pessoa ao estado de coma ou mesmo à morte.
Outro sério problema é que, em poucos meses, os tranquilizantes podem causar dependência. Sem eles, a pessoa se sente mal, irritada, com falta de sono, dor no corpo inteiro e assim por diante. Os médicos chamam isso de "crise de abstinência". Quer dizer, o organismo emite um monte de sinais para avisar que "sente" falta da droga.
ANFETAMINA
Meio grama já é o suficiente para manter-se acordada por durante horas, não raro, causa palpitações e estimula a vontade de urinar; depois da "viagem", você sente-se deprimida e com a sensação de cansaço. Se uma pessoa erra na dose, os efeitos causados por esta droga ficam mais fortes, principalmente os mais negativos como taquicardia, aumento do suor e palidez. Para não falar em agressividade e mania de perseguição. Às vezes, durante uma overdose, a temperatura aumenta tanto que a pessoa pode entrar em convulsão, exigindo atendimento médico imediato.
ÁLCOOL
Diminui as atividades cerebrais (reflexo, coordenação motora, memória) e, aos poucos, vai deixando a pessoa "desligada", parada, sem condições de tomar decisão. Aí começam as conseqüências imediatas do álcool: dirigir embriagado ou sair de carro "pra tirar racha", por exemplo, sem muita consciência do perigo. A médio prazo, quem erra na dose, sempre acaba tendo problemas de aprendizado, pois já foi provado que o álcool afeta a capacidade que as pessoas têm de reter novas informações. Com o passar do tempo, o álcool pode provocar tudo: desde tremores e problemas de estômago, fígado e pâncreas, até alucinações horríveis e assustadoras.
INALANTES OU SOLVENTES
O éter e da benzina ao serem inalados vão diretamente para o pulmão, passando para o sangue e atingindo o cérebro. O efeito é rapidíssimo. De segundos a minutos, no máximo, a pessoa fica "ligada" - as sensações são muito parecidas com as provocadas pelo álcool. Depois vem a fase da depressão, com o cérebro trabalhando em ritmo lento e deixando tudo confuso. A voz torna-se pastosa e a pessoa pode ver ou ouvir coisas que não existem. Quem costuma inalar solventes com freqüência, em geral tem dificuldade para se concentrar, não fica com vontade para nada e pode até sofrer uma destruição das células cerebrais conhecidas como neurônios.
XAROPES
A pessoa fica apática e sem ânimo. O coração trabalha mais devagar. Quem se vicia precisa aumentar cada vez mais a dose para sentir o mesmo efeito do início - o que torna a codeína bastante perigosa porque, se exagerar, há o risco de convulsões ou parada respiratória. O resultado pode ser FATAL.
DROGAS - UMA VIAGEM PELO CORPO HUMANO
Para essa víscera,com função de um policial de fronteira, as drogas não têm visto de entrada no organismo. Afinal, como qualquer substância tóxica, elas acabam causando muita destruição por onde passam. Mas, enquanto as células hepáticas fiscais prendem e liqüidam algumas dessas moléculas criadoras de encrenca, a maioria das turistas baderneiras terminam escapando e seguindo em frente - ou melhor, para o alto, em direção ao cérebro. E é ali que causam a maior confusão.
Trata-se, afinal de contas, de um órgão especialíssimo. Da dor de um beliscão à alegria de encontrar um amigo, da imagem de um rosto ao som de uma música, das recordações à imaginação, da fome de comida à sede de conhecimento - a pessoa só sente o que passa pelo cérebro. Para este, por sua vez, emoção,sensação ou razão, tudo é pura eletricidade. Pois suas células, os neurônios, se comunicam através de impulsos nervosos, que nada mais são do que correntes elétricas. Mas para que haja a transmissão de uma mensagem qualquer, é preciso que as células cerebrais secretem as chamadas substâncias neurotransmissoras.
Os neurônios nunca encostam um no outro. Os neurotransmissores, então, saltam de um neurônio para outro, passando o impulso elétrico em frente. A produção dessas substâncias porém, tem de acontecer na dose exata - se faltam neurotransmissores, a mensagem nervosa se perde no meio do caminho; em compensação, em excesso, são capazes de fazer uma informação ficar reverberando. As drogas, no caso, alteram o comportamento de seus usuários, justamente porque suas moléculas, clandestinas no sistema nervoso, conseguem mexer no nível dos neurotransmissores.
Algumas fazem as substâncias mensageiras jorrar a tal ponto que os impulsos se mutiplicam ou começam a trafegar mais depressa. Outras agem de modo inverso: fecham as torneiras dos neurotransmissores nos neurônios, que desse modo passam a trabalhar em câmera lenta. Finalmente, há também as farsantes, que se encaixam nos receptores das células cerebrais, fingindo trazer uma mensagem que, na realidade, não existe. É por isso que os especialistas costuman dividir os milhares de substâncias rotuladas como drogas em três grandes grupos: estimulantes, depressoras e alucinógenas.
Usando essas táticas, as drogas podem induzir todo tipo de sensação. No entanto, muitas vezes fica díficil saber detalhes do que aprontam. Em primeiro lugar, porque seu campo de ação, o cérebro, ainda não é completamente conhecido pelos cientistas. Além disso, a cada dia descobrimos novas funções para determinarmos neurotransmissores. Portanto, seguindo esse raciocínio, as drogas que interferem nessas substâncias podem provocar efeitos que, antes, não imaginávamos.
Existem, contudo, rastros que permitem aos cientistas presumir ao menos parte do percurso das drogas. Em sua viagem, as drogas devem fazer escalas mais demoradas em certas áreas, estudadas durante tempos por cientistas, e essas são regiões chamadas de centros de prazer, espalhados pelo sistema nervoso, dos quais o mais sensível seria o hipotálamo, na base do cérebro.
Tal como as cobaias da experiência americana, os usuários de drogas tambémtendem a diminuir os intervalos entre as aplicações dessas substâncias. É o fenômenoda tolerância: são necessárias quantidades cada vez maiores da substância para que ela produza o mesmíssimo efeito no organismo.
Se as drogas, de fato, atuam principalmente nos tais centros de prazer e saciedade do sistema nervoso - uma teoria que ainda provoca controvérsia nos meios científicos - a passagem delas por aí é traiçoeira. Isso porque, se logo no ínicio despertam alguma sensação agradável para a pessoa, em seguida passam a fazer chantagem: o organismo passa a implorar sua presença.
É o que se chama dependência: se antes alguém tomava a droga para sentir determinado efeito, depois é obrigado a tomá-la para seu corpo continuar funcionando direito - o "barato", comodizem os dependentes, já nem importa mais. Um organismo viciado em heroína, por exemplo, precisa da substância tanto quanto qualquer pessoa precisa de alimento. Interromper o consumo da droga é sofrer flagelos piores do que estar faminto, o que já faz, na maioria das vezes, qualquer um desistir da idéia de abandonar o vício.
E, no caso, assim como se morre por inanimição, insistir na interrupção do uso da heroína, sem acompanhamento médico, costuma ser fatal. O tormento físico relacionado ao abandono de qualquer droga é o que os especialistas conhecem por síndrome de abstinência.
A da heroína só perde para a do álcool. O fenômeno acontece, mais uma vez, porque as drogas desregulam o sistema nervoso. Por exemplo, as moléculas dos chamados narcóticos - produtos derivados do ópio, como a heroína - são extremamente parecidas com as de uma família de substâncias que os neurônios fabricam para controlar a dor física e moderar emoções como o medo e a angústia. Assim, além de servirem de anestésico, os narcóticos diminuem a ansiedade e induzem o sono. Mas o uso contínuo das substâncias opiáceas leva o cérebro a poupar suas energias, deixando de produzir os neurotransmissores com moléculas similares as das drogas.
O álcool pode agir de maneira semelhante. Mas para criar tamanha dependência é preciso que uma pessoa beba, com freqüência, tremendas quantidades de bebidas alcoólicas a qual chegue a absolver a ingestão cautelosa. Doses moderadas de uísque, especificamente, podem até combater a hipertensão. O álcool é um depressor do funcionamento do sistema nervoso. O mais curioso, porém, é que ele parece agir em etapas, ao chegar ao cérebro. A primeira região a ser deprimida é aquela do comportamento voluntário, na superfície da víscera cinzenta, responsável por decisões do tipo "o que devo e o que não devo fazer". Ou seja, em um só golpe, o álcool derruba a autocensura.
Depois de alguns goles, a pessoa passa a liberar pensamentos e emoções que estavam, de alguma maneira, bloqueados - pode, assim, falar mal da sogra, cair na gargalhada, soltar o choro, mostrar o cansaço do dia e adormecer em público.
O próximo passo do álcool no sistema nervoso é ir para as áreas encarregadas da concentração e da coordenação motora. Da mesma forma que a bebida alcoólica, os remédios barbitúricos, criados a partir de 1903, deprimem o sistema nervoso. No entanto, se o cérebro passa a trabalhar em marcha lenta, o fígado fiscal, depois de quebrar as moléculas dessas substâncias, funciona como se tivesse recebido uma injeção de ânimo.
Por isso, outros remédios costumam deixar de fazer efeito quando associados ao uso de calmantes - afinal, mal entram na circulação sangüínea, são arrasados pelas células hepáticas. Estas, por sua vez - na trama complexa da mistura de drogas -, são disputadas pelas moléculas de álcool e de barbitúricos, quando ambas chegam na mesma hora ao organismo. Essa briga pode ser fatal para quem engoliu os dois tipos: sem dar conta do recado, o fígado libera a passagem das drogas, que uma vez unidas no cérebro podem provocar a morte. Esse excesso é a overdose, que ao contrário do que muitos imaginam não é um jeito suave de morrer.
A primeira área do cérebro a entregar o jogo é a que controla a respiração. Como conseqüência a pessoa morre por asfixia. Pior, graças a um mecanismo de defesa, sempre que falta oxigênio para o organismo, a pessoa fica em estado de alerta. Ou seja, quem morre por ingestão de calmante, em vez de se desligar da vida dormindo, provavelmente fica consciente da enrascada que se meteu. Algumas misturas são mais perigosas do que outras. Existem também vários mitos. O álcool não potencializa o efeito da cocaína, por exemplo.
O pó branco da família dos estimulantes não costuma ser metabolizado no fígado. O único perigo é a pessoa alcoolizada perder a noção do que faz e usar mais cocaína do que o tolerável peloorganismo. Aliás, esse tipo de observação é válido para qualquer mistura de drogas.
Normalmente, quando um neurônio libera uma microdose de neurotransmissores, para alcançar os neurônios vizinhos, essas substâncias são reabsorvidas. É justamente essa reabsorção que a cocaína impede, ao ser injetada ou inalada na forma de pó. Ou seja, todas as mensagens que transitam no cérebro, enquanto dura o efeito da droga, ficam reverbando - daí o jeito agitado e confuso do usuário.
A linha cruzada de várias informações, depois de certo tempo ou conforma a quantidade da droga no organismo, provoca panes - as convulsões do cérebro, geralmente fatais. Na realidade, as anfetaminas podem levar ao mesmo efeito, por um caminho diferente: em vez de as mensagens se repetirem, do ponto de vista químico, elas começam a passar mais depressa.
Os alucinógenos, como o LSD, são drogas peculiares, porque não costumam matar quem as consome. As moléculas de LSD enviam mensagens falsas, especialmente na área do cérebro que se encarregam de compreender aquilo que os olhos registram. Com isso, durante a viagem da substância pelo sistema nervoso, a pessoa passeia por cenários imaginários. Existem teorias de que a droga danifica os neurônios, mas não estão muito claras.
A maconha, substância alucinógena, também provoca controvérsias. Das mais de 400 substâncias que as compõem, só uma minoria foi isolada. Daí a dificuldade dos cientistas em afirmar que o chamado THC, um dos seus componentes, é de fato o responsável pelo relaxamento muscular e pela perda de noção do tempo, por exemplo. A maconha provoca ainda a liberação de adrenalina, o hormônio que acelera os batimentos cardíacos.
O coração então chega a bater cerca de 160 vezes por minuto, quando o normal seria entre 80 e 100. Só para se ter idéia, durante o orgasmo, o músculo cardíaco pode atingir 180 batidas por minuto. Experiências mostram que ninguém morre de overdose dessa droga, cujos efeitos maléficos seriam os mesmos do cigarro de tabaco - o qual provoca dependência, síndrome de abstinência e uma série de males, como câncer de pulmão, embora não seja comercializado por traficantes nem seus usuários perseguidos pela polícia.O tempo que algumas drogas levam para fazer estragos...
AS CONSEQÜÊNCIAS COM O USO CRÔNICO | |
álcool | gastrite, hipertensão, hepatite, cirrose, distúrbios neurológicos |
cocaína | emagrecimento acentuado, lesões na mucosa nasal, convulsões |
tabaco | bronquite, alto risco de câncer de pulmão |
maconha | diminuição da memória, distúrbios hormonais e esterilidade masculina reversíveis |
heroína | problemas de vesícula, prisão de ventre |
anfetaminas | emagrecimento acentuado, problemas cardíacos |
sedativos | menor capacidade de concentração, anemia, depressão |
... e o que acontece quando seu consumo pára bruscamente
SÍNDROME DE ABSTINÊNCIA | |
álcool | insônia, irritabilidade, tremores, distúrbios nerológicos que podem levar a morte |
cocaína | sono, cansaço, depressão, diminuição do apetite |
tabaco | ansiedade, dor de cabeça, aumento do apetite |
maconha | em alguns casos, insônia |
heroína | diarréias e vômitos fortes, provocando morte por desidratação |
anfetaminas | depressão |
sedativos | ansiedade e, nos casos graves, convulsões |
COMPARAÇÕES ENTRE NOTÍCIAS DE ANOS DIFERENTES
Em 1992: Crack substitui cola de sapateiro
Os marmanjos de rua que os corações generosos preferem encarar com crianças inofensivas e indefesas, acabam de encontrar um novo passatempo para suas bucólicas tardes de comtemplação, entre um estupro e outro, ou mesmo nos intervalos dos assaltos e homicídios, os anjinhos, se entregam ao consumo do Crack. Na verdade a cola de sapateiro estava falsificada e vinha provocando efeitos colaterais, tirando o apetite da moçada e seus pais ficavam muito tristes porque eles não estavam se alimentando regularmente como deviam.
O Crack pelo menos não tira o apetite. Seca a boca, mas isso é resolvido com os drinks de Metanol. O delegado Cláudio Alvarenga, confirma que em Campinas a moçada está "deitando e rolando" com o consumo do Crack que, na verdade não é nenhuma droga nova, mas sim um derivado da cocaína. Vejam o que diz a autoridade: "Nós só tivemos notícias do uso de Crack, em Campinas, em meados do ano passado. Depois não se encontrou mais viciados transformando cocaína em Crack. Somente agora é que estamos apreendendo utensílios para a fabricação caseira deste tipo de droga", analisou Cláudio Freire. O Crack não é produzido em "escala industrial" como a cocaína.
Vôo rápido
De acordo com as informações colhidas pela Delegacia de Narcóticos de Campinas, o Crack tem efeito rápido e devastador, principalmente ao organismo humano. "O efeito é intenso e efêmero, numa ação semelhante ao lança-perfume", classificou Cláudio Alvarenga. Na avaliação médica, com diversos trabalhos publicados nos Estados Unidos da América, país onde se originou a nova droga, o Crack é tão maléfico à saúde como cria dependência física rapidamente. Apesar da nova onda de apreensões de materiais para fabricação do Crack, o delegado da Delegacia de Narcóticos não vislumbra a disseminação do uso em Campinas.
"A droga está restrita, realmente, aos marginais da sociedade", acredita Cláudio Freire. Na avaliação do delegado as pessoas, mesmo usuárias de drogas como a cocaína, não se submetem ao Crack, provavelmente pelo conhecimento que possuem dos efeitos destrutivos do Crack.
O Crack consumido pelos norte-americanos é diferente da droga utilizada no Brasil. Nos Estados Unidos, ela é feita a partir da pasta base de cocaína. A pasta é a forma da cocaína antes do refino.
No Brasil, utiliza-se a cocaína refinada. No processo de refinamento, essa droga é "batizada" pelo éter, ácido clorídrico e outros produtos químicos. A pasta de cocaína é menos letal do que a cocaína consumida na forma de sal (pó branco cristalino). O sal é mais lucrativo para os traficantes e facilmente adulterável: pode ser misturado com produtos de cor semelhante, como o talco, por exemplo.
Cada grama de cocaína "batizada" permite a produção de cinco papelotes de Crack. Hoje, em São Paulo, cada papelote dessa droga custa o mesmo que o grama da cocaína. O traficante de Crack lucra no mínimo quatro vezes mais o que ele pagou na compra da cocaína refinada.
Extraído do jornal "Tribuna Policial" · Em 1995: Crack, a superdroga vira epidemia, conquista a classe média e já contabiliza 150 mil viciados em São Paulo.
O Crack é uma droga superpoderosa. Hoje, esse coquetel explosivo não é mais uma droga que atinge apenas os meninos de rua e adolescentes de baixo poder aquisitivo. O Crack rompeu as barreiras sociais, circula entre jovens de classe média, empresários, e já disputa espaço com a cocaína em bares e portas das escolas particulares dos bairros nobres, principalmente em São Paulo. "Usei o Crack pela primeira vez em uma festa no bairro paulistano de Higienópolis.
Quem me ofereceu a pedra foi um colega da Escola Panamericana de Arte", lembra o estudante Marcelo, 26 anos, ex-proprietário de uma agência especializada na criação de logotipos. "Eu faturava mais de R$ 7 mil por mês. Mesmo assim, virei ladrão para poder comprar pedras", lamenta.
O aumento do consumo de Crack nos últimos seis meses tem impressionado a polícia, os médicos e até mesmo os usuários de cocaína e maconha. "De março para cá, está cada vez mais difícil encontrar outro tipo de droga. Os traficantes estào trabalhando só com o Crack", diz o executivo Marcos, 34 anos, pai de dois filhos e ex-diretor de vendas da indústria de seu pai.
A velocidade com que o Crack se alastra é alarmante. "Trata-se da droga com maior poder viciante já vista", diz o psiquiatra Rubens Campos Filho, do centro de estudos e Pesquisas Karl Kleist, de São Paulo. "Em 20 anos, não vi nada que proliferasse com tanta rapidez". Os números da polícia comprovam isso. Os primeiros registros sobre o uso do Crack no Brasil datam de 1988. Hoje, segundo o Denarc (Departamento Estadual de Investigações sobre Narcóticos), apenas em São Paulo existem cerca de 150 mil usuários do Crack.
Ou seja, nos últimos sete anos, a cada dia 60 pessoas engrossaram a legião de dependentes. "Precisamos tratar o Crack como uma epidemia", recomenda o delegado Alberto Corazza, do Denarc, que há mais de 20 anos se dedica ao estudo de entorpecentes. "Na maioria dos casos há uma dependência rápida, intensa, preocupante e cega", adverte o coordenador do grupo interdisciplinar de estudos de álcool e drogas, do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo, Arthur Guerra de Andrade. "Fumei a primeira pedra de Crack em março. Foi uma sensação maravilhosa. Um orgasmo no céu.
A viagem durou apenas alguns minutos e dois dias depois fumei outra pedra. Foi o suficiente para não conseguir ficar sem o Crack por mais de 24 horas. Dez dias depois da primeira fumada estava consumindo cerca de 20 pedras por noite", relata o executivo Marcos. O Crack atua diretamente no cérebro, com uma rapidez e intensidade não encontrada em nenhuma outra droga.
O ex-executivo Marcos conta que, depois de ter fumado Crack por cinco ou seis vezes consecutivas, não se sentia capaz de permanecer mais de meia hora sem pipar - expressão usada pelos dependentes para designar o ato de fumar Crack. "Não conseguia sequer permanecer nas reuniões com meu pai e os demais diretores da empresa. Saía da sala para fumar no banheiro e quando voltava não tinha nenhum discernimento", recorda-se.
O representante comercial Zoroasto Gomes (o nome é falso), 38 anos, formado em ciências contábeis e pai de três filhos, também viveu experiências complicadas, durante dois anos de dependência. Ele chegou a ficar acordado uma semana. Esperava a mulher e os filhos dormirem para usar o Crack no banheiro ou no quintal.
Muitas vezes, durante a madrugada, precisou sair em busca de mais pedras. Nessas ocasiões, ele chegava a atrasar todos os relógios da casa. "Se eram quatro horas, colocava os ponteiros marcando uma hora. Assim se alguém acordasse pensaria que ainda era cedo e por isso eu não estava dormindo", narra Zoroastro.
Com o estudante-empresário Marcelo as coisas não eram diferentes. Após começar a usar Crack, em menos de três meses ele faliu e foi obrigado a fechar sua agência de criação em Santo Amaro, zona sul de São Paulo. Na primeira semana de julho, Marcelo pediu o carro da mãe emprestado e desapareceu por uma semana. Não sei onde estive, apenas me recordo que no primeiro dia troquei o Fiat Tipo de minha mãe por 40 pedras de Crack", diz.
Ele admite ter perdido qualquer referencial com a sociedade. Nem sequer o sexo lhe despertava interesse. "Quando se está envolvido com o Crack, ele vira a única razão de viver. É diferente de outras drogas. Às vezes eu usava cocaína para me sentir forte e fazer alguma coisa.
O Crack, a gente usa e nada acontece. Você se desliga do mundo." O psiquiatra Arthur Guerra explica essa relação. Segundo o médico, a sensação de prazer provocada pelo Crack ocorre apenas nas primeiras vezes de uso. "Depois de seis ou sete pipadas, as pessoas passam a usar a droga apenas para evitar o desprazer da fissura - a compulsão - e não para encontrar alguma satisfação", diz Guerra.
O crescimento do consumo de Crack entre os jovens abastados é recente e avassalador. Começou no ínicio desse ano e preocupa. O psiquiatra Rubens Campos Filho relata que, até o final do ano passado, de cada 100 pacientes apenas cinco ou seis eram usuários de Crack. Hoje, em 100 pessoas que o procuram, cerca de 60 estão fumando o Crack.
O Centro de Estudos Karl Kleisti conta com o telefone (011) 543-1157 para orientar usuários de droga que queiram se recuperar. Até dezembro, 15 viciados em Crack ligavam, por dia. Hoje, esse número chega a 50. No Denarc, a divisão de prevensão e educação também já confere o aumento do uso de Crack entre profissionais liberais e jovens de auto poder aquisitivo. "A polícia é o último lugar a ser procurado por um dependente de drogas que tenha dinheiro. Mesmo assim, já verificamos que o Crack entrou na alta sociedade", afirma o delegado Corazza. No ano passado, o Denarc era procurado por uma média de duas pessoas com nível universitário e bom poder aquisitivo a cada mês. Neste ano, o número de casos dobrou. Só em junho, Corazza encaminhou para tratamento três médicos e um empresário.
O pior do Crack é o que acontece quando passa o efeito. "Após a breve viagem, os dependentes apresentam quadros de alucinação e paranóia, além de depressão e confusão mental", diz o psiquiatra Mário Biscaia, da Casa de Saúde Doutor Eiras, no Rio de Janeiro. As manifestações mais comuns da paranóia entre os usuários de Crack são a sensação de perseguição e a busca por algo que não se sabe o que é.
O representante comercial Zoroastro foi diversas vezes surpreendido pela mulher e os filhos no meio da madrugada, revirando o guarda roupa e olhando sob a cama. "Era um bom ator. Dizia que estava procurando um chinelo ou outra coisa qualquer e eles acreditavam. Enganava não só a minha família como a mim mesmo", relata. O executivo Marcos tinha mania de perseguição. Ele lembra que entra a segunda e a terceira pedra procurava um lugar para se esconder. "Achava que todos queriam me matar.
Cheguei a pipar dentro de bueiros, imaginando os helicópteros da polícia sobrevoando o bairro para me capturar."
Essa paranóia é uma das responsáveis por cenas de violência que o Crack provoca. O psiquiatra Rubens de Campos Filho narra um caso extremo. Em fevereiro deste ano, dois casais foram fumar em um hotel na zona leste de São Paulo. Ocuparam quartos vizinhos e, durante a noite, um dos rapazes ficou sem pedras. Desesperado, ele foi buscar mais droga com um amigo. Saiu nu no corredor e bateu à porta do quarto.
O amigo estava em paranóia. Achou que alguém o queria matar e ao abrir a porta golpeou o colega com uma faca. Por razões de ética, o médico não revela os nomes dos dependentes. "Uma noite cheguei a surrar meu avô com pedaço de pau porque ele bateu à porta do banheiro do quintal onde eu estava em paranóia", lembra o estudante Marcelo.
O delegado Corazza tem razão ao afirmar que o Crack virou uma epidemia. Mas não se trata de uma preferência nacional. Por enquanto, é uma praga paulistana. Em outras capitais, o Crack ainda não aparece de forma expressiva. Em Brasília, a polícia não tem nenhum registro de apreensão de Crack. Segundo o chefe da Delegacia de Tóxicos e Entorpecentes do Distrito Federal, Manoel Mascarenhas da Silva, a droga mais forte que tem chegado ao Planalto Central é a Merla.
Trata-se da pasta-base de cocaína que é fumada junto com o gigarro comum. Embora menos potente, ela tem efeitos parecidos aos do Crack. O ponto de fusão da Merla é mais baixo que o do Crack. Por isso, a droga perde parte de seu potencial antes de chegar ao organismo do usuário. No Rio de Janeiro, são poucos os casos de Crack. Dos doze viciados internados atualmente na Casa de Saúde Doutor Eiras, apenas três já usaram a droga que tem assustado São Paulo.
"O Crack é bastante raro no Rio", diz a diretora do Núcleo de Estudos e Pesquisa em Atenção ao Uso de Drogas (Nepad), Maria Tereza de Aquino. A droga pode não ser representativa nos registros médicos do Rio, mas entre os jovens da classe média, já começa a marcar presença. O músico Bernardo, 31 anos, filho de profissionais liberais e morador da zona sul do Rio, começou a consumir cocaína com 15 anos de idade. Com o tempo, seu septo nasal foi totalmente destruído pelo pó.
"Quando cheirava ficava tudo bem, mas horas depois a dor era insuportável", lembra Bernardo. Em 1989 ele experimentou Crack pela primeira vez, na casa de um amigo. Voltou a fumar as pedras no começo desse ano e não conseguiu parar mais. Hoje, está internado em uma clínica e ainda não venceu as convulsões. "No Rio, não se vende o Crack pronto. Então, eu subia os morros e comprava cocaína para produzir as pedras.
Os traficantes me chamavam de Pancadão. Cheguei a destruir cinco carros de minha mãe. Descia do morro muito doido e batia em tudo que via. Hoje, não tenho mais amigos e não sou capaz de trabalhar", conta. Bernardo sugere que médicos e autoridades policiais do Rio fiquem bem atentos à entrada do Crack na cidade. "Por enquanto, a droga não circula muito. Mas nos últimos meses ouvi diversos colegas afirmarem que estão fabricando pedra", lembra. "Temos uma incidência mínima de Crack, só que ela vem aumentando desde fevereiro", contabiliza o psiquiatra carioca Mário Biscaia.
Em São Paulo, o Crack não virou uma epidemia da noite para o dia. Nenhuma droga se multiplica por acaso. "O problema é que enquanto o Crack estava restrito à periferia, ninguém se importava", lamenta o delegado Corazza. A droga começou a ser usada no final dos anos 80, pelos jovens mais pobres. Era produzida de forma rudimentar, principalmente em favelas na zona leste. Se alastrou em razão da própria cocaína.
Os aviões - viciados em pó usados pelos traficantes para fazer entregas a domicílio - passaram a produzir o Crack a partir da própria cocaína. Assim , arrumavam um jeito fácil de ganhar dinheiro. Logo, a droga se alastrou entre as camadas mais baixas da população, inclusive meninos de rua. "O preço de uma pedra de Crack é baixo, mais ele se torna uma droga muito cara. Porque o viciado passa a exigir dezenas de pedras por dia", afirma Corazza. Na periferia, as conseqüências dessa equação são dramáticas.
Das últimas chacinas ocorridas em São Paulo, pelo menos 60% estão ligadas à droga. "As pessoas têm sido mortas em razão das dívidas acumuladas por causa do Crack", afirma o diretor do Denarc, Fernando Vilhena.
CONFISSÕES DE UM VICIADO
Israel Levin, um dos proprietários da indústria de cuecas Zorba, sonhava ver seu filho Abrão nos altares das sinagogas de São Paulo, como rabino. De Abrão, hoje com 31 anos, pode-se dizer tudo, menos que ele leve uma vida de rabino. Viciado em cocaína desde os 15 anos, ele já roubou o próprio pai, apanhou de traficantes, surrou a ex-mulher.
Anda armado. Ele é contra a legalização das drogas. Os viciados consumiriam mais, argumenta. A seguir trechos de seu depoimento: "Estou para lá de Bagdá. Sob efeito das drogas não sou uma pessoa feliz. Me sinto culpado de usá-las. Minha vida está muito ruim. As drogas me afastaram do trabalho e da família. Virei uma pessoa sem escrúpulos.
Por exemplo: digamos que tenho 10 reais no bolso e minha ex-mulher, a atriz Grace Gianoukas, telefona dizendo que precisa de dinheiro para comprar leite para o nosso filho de 4 anos, o Nicolas. Bem, se eu precisar comprar uma dose para mim, eu não dou a grana para o Nicolas, com certeza.
E é certeza. É certeza. Não é uma dúvida. Aos 15 anos, eu já fumava maconha e cheirava cocaína. Nessa época, numa certa noite, quando cheguei em casa, fui intimado por meu pai. "Você fuma maconha?", ele me perguntou. Não tive como negar. Começamos a discutir. Na manhã seguinte, fui mandado embora de casa. "Quando uma das laranjas do saco é podre, a gente tira, para não estragar as outras", foi o que ouvi.
As outras laranjas eram meus dois irmãos. Reconciliamo-nos muitos anos depois, quando comecei a trabalhar na Zorba como assistente de marketing. Trabalhava muito. Porque o viciado é um sujeito compulsivo. Tudo vira vício na vida dele. Todas as mulheres de minha vida, por exemplo, foram obsessão. Nessa época criei o famoso passarinho da Zorba, aquele que fez sucesso nas campanhas publicitárias. Mas aos 26 anos, decidi parar de trabalhar. Virei roqueiro. Montei um grupo, o Abrão e os Lincolns.
Mas, apesar de o som ser do barulho, não emplacamos. Sem dinheiro, precisava roubar para conseguir comprar a droga. Comecei a vender tudo o que tinha na casa de meu pai, à revelia dele. Televisão, esse tipo de coisa. Até o dia que os tiras da Polícia Civil me pegaram. Tinha comprado 5 gramas de cocaína e estava louquinho para aplicar. De cara, assumi que era viciado. Levaram-me à delegacia. Foi traumático. Queriam saber de onde vinha aquela mercadoria. Começaram a me ameaçar. Deram uns socos na minha cara.
Me deixaram pelado. Fui parar no xadrez. Foi nojento. Um lugar que fedia a xixi, com ratos embaixo do cano. Achei um absurdo. Rasparam meu cabelo, dizendo que eu parecia mulher. Rasparam até minhas sobrancelhas. Péssimos dias. O sol mal penetrava na cela. Ficava fazendo exercício. Também meditava, fazia ioga, o que era motivo de piada entre os carceiros. Yoga naquele chão nojento, nem Buda seria capaz! Saí de lá no terceiro dia cheio de piolhos e umas perebas no corpo. Tive de me depilar todo.
Saí aliviadíssimo, porque reconquistara a liberdade. A prisão me fez perceber que estou mesmo fora da realidade. O futuro do viciado é a morte ou a loucura total.
ESPECIAL CRACK: DROGA ESTÁ ENTRE AS DE MAIOR IMPACTO
Segundo pesquisas, 80% dos meninos que usam Crack desenvolvem, a médio prazo, idéias persecutórias (mania de perseguição). Quase sempre o fim do processo é a paranóia. A droga também destrói neurônios, prejudicando diversas funções cerebrais. Por ser fumado, o Crack diminui o volume de brônquios, permitindo a instalação de bronquite crônica em 70% dos casos.
Deficiências cardíacas, doenças gástricas e infecções nos olhos, são outros estragos provocados pela droga. O crescimento é afetado, porque além de debilitar o organismo, o uso do Crack tira o apetite e os jovens passam a se alimentar com deficiência. A desagregação social é uma conseqüência inevitável, com o jovem abandonando família, escola e trabalho.
O Crack abrevia a vida dos jovens de inúmeras formas. Há os fatores associados, como a violência característica do mundo das drogas. Como muitas vezes o crime é a única fonte de dinheiro para o Crack, eles vivem sob risco de morte, pelas mãos da Polícia ou dos traficantes, em "queima de arquivo", como é chamada a eliminação de participantes do tráfico que se tornam incômodos.
O alto potencial tóxico do Crack se deve principalmente à sua forma de uso: como é fumada, a absorção do potencial ativo da droga pelo organismo é maior, pois atinge diretamente a circulação arterial. É muito rápida também, na ordem de três segundos. A cocaína, quando injetada, demora dez segundos para fazer efeito.
A difusão do Crack provocou uma reviravolta nas etapas do processo tradicional de contato dos jovens com as drogas. Antes, eles começavam cheirando cocaína e só com mais idade passavam a injetar; o que os colocavam em risco constante de overdose ou contágio por Aids. Agora, já entram direto na modalidade mais impactante do uso, o que representa riscos de vida bem mais cedo.
A dependência advém após o uso por quatro vezes, no máximo. Como a tendência atual é o jovem conhecer o Crack antes de drogas mais leves, como a maconha, essa falta de experiência reforça a instalação do vício. No tratamento, a desintoxicação é possível mediante o uso de medicamentos. Há uma fase aguda, que dura duas semanas. Se ela for superada, a compulsão de fumar pode ser vencida em seis semanas. Para meninos de rua, mais difícil que se curar da dependência é chegar ao tratamento, por causa da forma como vivem.
COMO É FEITO, COMO É FUMADO, COMO E PORQUE VICIA
- Os traficantes misturam a cocaína com bicarbonato de sódio ou amoníaco em um recipiente com água.
- Usa-se um pote de iogurte com um tubo ("cachimbo") introduzido em sua metade e água no fundo.
- A droga inalada leva quatro segundos para percorrer o caminho dos pulmões ao cérebro pela corrente sanguínea
- Os traficantes fervem a mistura Recobre-se o pote com papel laminado perfurado
- Após fumar o Crack, a pessoa sente euforia durante 10 a 20 minutos
- Com o calor, a cocaína se solidifica, transformando-se em cristais que sobem à superfície.
- Da euforia passa-se para uma forte depressão. Os cristais ou pedras são "fumados" ou colocados à venda em papelotes. Queima-se o Crack com cinzas de cigarro. O desejo de compensar o estado depressivo leva o usuário a fumar a droga compulsivamente.
- Aspira-se a fumaça que desce para o interior do pote. Em uma ou duas semanas de uso, a droga provoca dependência física e psíquica
CURIOSIDADES: O DIALETO DO CRACKENTO
CRACK: Denominação inspirada no aspecto da droga, mais seca que a cocaína.
CHIMBA: Cachimbo usado para fumar Crack, geralmente improvisado com copinhos plásticos de água ou iogurte.
LOUÇA: Polícia. Quando há aproximação de policiais, o termo é gritado pelo pano, para alertar a roda de Crack ou o ponto de tráfico.
NHÉ: Estado de depressão que sucede o efeito do Crack.
NHECAR: Morrer por doença provocada pelo uso do Crack.
NÓIA: Efeito do Crack, agitação que dura dez minutos, no máximo, após cada fumada. É uma corruptela de paranóia.
PANO: Menino que vigia a aproximação da polícia nas rodas de Crack ou nos pontos de tráfico. É uma corruptela de campano, variação de campana.
SOPRO: O ato de fumar Crack.
TIO-BÃO: Adulto que explora crianças e adolescentes de rua no tráfico de Crack.
Quase sempre é um traficante de segunda linha, responsável pela transformação de cocaína em Crack, para conseguir um produto mais barato.
VACILÃO: Drogas mais leves que o Crack, como maconha e cola de sapateiro, já em desuso pela maioria dos meninos de rua.
( COMO RECONHECER UM VICIADO)
1. Mudança brusca no comportamento do jovem.
2. Irritabilidade sem motivo aparente e explosões nervosas.
3. Inquietação motora, o jovem se apresenta impaciente, inquieto, irritado, agressivo e violento.
4. Depressões, estado de angústia aparente.
5. Queda do aproveitamento escolar ou desistência dos estudos.
6. Insônia rebelde, ou sono em demasia.
7. Isolamento : o jovem se recusa a sair do seu quarto, evitando contato com amigos e familiares.
10. Más companhias. Os que iniciaram no vício passam a fazer parte da vida do jovem.
( DOZE PRINCÍPIOS QUE UM VICIADO DEVE TER EM MENTE)
1. Os problemas da família são inerentes ao mundo atual.
2. Os pais também são gente.
3. Os recursos materias e emocionais dos pais tem limites.
4. Pais e filhos não são iguais.
5. A culpa torna as pessoas indefesas.
6. O comportamento dos filhos afeta os pais, o comportamento dos pais afeta os filhos.
7. Assumir posições ou fechar questão podem precipitar uma crise, e gerar um impasse.
8. Das crises controladas surge a possibilidades de mudança positiva.
9. As famílias precisam dar e receber apoio em sua própria comunidade para que possam mudar sua atitude.
10. A essência da família repousa na cooperação, não na convivência.
11. Exigência na disciplina com o objetivo de ordenar, organizar a nossa vida, a vida de nossa família.
12. Amor com respeito, sem egoísmo, sem comodismo... Amor que exige, orienta e educação.
ECSTASY "A DROGA DO AMOR"
O QUE É?
O QUE PROVOCA
RISCO DE CONSUMO
Existem vários tipos de Ecstasy. Cada um pode provocar uma reação diferente no usuário. O tempo de duração do efeito pode ser de até 12 horas.
COMO FUNCIONA NO SISTEMA NERVOSO
As informações, como imagem ou som, "caminham" no sistema nervoso através de células chamadas neurônios, que não se tocam. Eles dependem dos neurotransmissores para se comunicarem. Os neurotransmissores são liberados na extremidade de um neurônio e vão até o neurônio vizinho. O Ecstasy impede as pessoas de manter atividades normais como dormir e se alimentar.
CONSUMO TEM RELAÇÃO COM CULTURA 'DANCE'
- Usuários tomam a droga para desinibir, dançar à noite em reuniões de grupos, danceterias e fazer sexo
- O consumo e a difusão do Ecstasy estão diretamente relacionados com a chamada cultura "dance".
- Das "rave parties" inglesas ( megafestas realizadas em galpões industriais abandonados a partir de meados dos anos 80 ( às festas alternativas, embalam as noites dos consumidores do Ecstasy.
- "Uma coisa não existe sem a outra. Uma boa noite de curtição começa com Ecstasy e dance music", disse o estilista Sérgio M.A., que consome a droga duas vezes por mês em média.
- Segundo ele, a diferença entre as "rave parties" inglesas e as reuniões de amigos, situação mais comum de consumo de Ecstasy, está no "tamanho da festa e não na intensidade".
- "Na Europa, ninguém interfere na vida de ninguém e as pessoas são mais livres. Aqui a gente tem que tomar muito cuidado para não se comprometer, mas nós curtimos como se tivéssemos em uma festa enorme".
- Daí, a explicação para o uso restrito do Ecstasy. Fica sempre entre amigos. São amigos que nos enviam por carta e são amigos que dividem o barato quando saem em grupo", disse Sérgio M. A..
- Um papel com um microponto de Ecstasy pode ser dividido por oito pessoas, diz o estilista.
- "Curtir a noite" na concepção dessas pessoas significa dançar em festas ou danceterias e fazer sexo.
- "A droga deixa a gente mais solto e facilita a aproximação. Mas é importante saber usar. Não adianta usar Ecstasy se a gente não for para um lugar que tem gente bonita e descolada".
- Há estudos que comprovam que o Ecstasy deixa as pessoas mais desinibidas, porém o efeito é temporário.
- O uso dessa droga dá a sensação temporária de soltura, mas não é um processo verdadeiro de auto-conhecimento e deliberação.
- Mas os usuários não parecem se preocupar com a fugacidade dos efeitos do Ecstasy. "As coisas acontecem muito rápido e a gente vive entre um barato e outro", disse André S. S..
- A ilegalidade também não assusta os usuários. Como na Inglaterra, a venda e o consumo de Ecstasy são proibidos no Brasil.
"As drogas sempre foram proibidas e nem por isso as pessoas deixaram de cosumir. Duvido que isso mude algum dia", disse Sérgio M. A..
ECSTASY ANIMA FESTAS ALTERNATIVAS EM CAMPINAS
Campinas, aos poucos, vai entrando na rota do Ecstasy, droga que combina substâncias químicas e alucinógenas criadas em laboratórios da Inglaterra no final da década passada e que passou a ser conhecida como "droga do amor".
Em festas alternativas da classe média alta ou em danceterias, o Ecstasy é consumido por estudantes, profissionais liberais e empresários para aumentar a sensibilidade e provocar maior desejo sexual.
O ecstasy pode ser encontrado em forma de comprimido ou de microponto ( dose da droga aplicada sobre o papel ( , como os ácidos usados nas décadas de 60 e 70.
Cada um custa em média entre R$ 40,00 e R$ 50,00 e é ingerido com água, com efeito retardado, ou bebida alcoólica, quando o efeito é mais imediato.
"Com o Ecstasy vejo muito mais colorido e me sinto mais solto", disse o empresário S., que consome a droga entre três a quatro vezes por mês.
"É como um orgasmo prolongado", afirmou a estudante da faculdade de Comunicação da Puccamp (Pontífica Universidade Católica de Campinas) Paula M. S..
A Polícia Civil de Campinas diz que desconhece a entrada da droga em Campinas. Até agora a Dise (Delegacia de Investigações Sobre Entorpecentes) ainda não fez nenhuma apreensão do material.
O Ecstasy é uma droga usada principalmente por "clubbers", versão dance dos antigos boêmios. A intensão é, obviamente, fazer sexo.
CONCLUSÃO
Nós, como jovens, preocupamo-nos com essa assombrosa realidade que atinge neste final de século XX, não só o Brasil, mas todo o mundo.
A cada semana, novos casos assustam a sociedade. O poder que as drogas exercem sobre o ser humano é enorme, a ponto de ser capaz de tornar jovens, antes com perspectivas futuras de vida, em marginais.
Quem pensa que somente os jovens usam drogas, engana-se profundamente. Na maioria dos casos, a pessoa se inicia no mundo dos entorpecentes na adolescência (a maioria com 15 ou 16 anos), às vezes cessa ou não o consumo por um pequeno espaço de tempo e, mais tarde volta a consumir drogas. Muitas vezes, perde totalmente o controle de sua vida pessoal, profissional e social, vivendo apenas em função das drogas.
O Crack, criado a partir da pasta de cocaína com uma mistura de bicarbonato de sódio, é uma das drogas mais perigosas, pelo simples fato de que tem um alto poder viciante e, depois da pessoa fumar uma, duas vezes, não consegue parar mais de "pipar" (termo usado pelos usuários cujo o significado é "fumar"). Por ser mais
barato que a cocaína o Crack vem sendo usado constantemente por milhares de pessoas e, a cada dia outras centenas delas tornam-se viciadas, assustando médicos, delegados e a nós mesmos.
Quem, alguma vez já presenciou um garoto (de 8 ou 9 anos) utilizando um copinho qualquer para fumar Crack? Não queiram vê-lo. É triste saber, porém é mais ainda VER. Nos perguntamos por que tantos jovens, tantos médicos, executivos, atores, seres humanos sem exceções, mesmo sabendo dos perigos que os entorpecentes causam no organismo e na vida de um modo geral, entram neste "túnel
escuro", jogando praticamente toda a vida por um penhasco.
Obtivemos várias respostas. Mas a maioria "entrou nesse ramo" por curiosidade. Todos pensavam que, quando desejassem, parariam, pois eram "donos de suas vontades". E eram. Mas o vício é uma doença. Sua cura? Positiva em alguns casos, negativa em outros.
Nas clínicas de recuperação de viciados em drogas, os voluntários e médicos afirmam que o usar da força, obrigar, exigir, impor de um ser humano (no caso o adolescente) algo, não resolve. Principalmente em tratando-se das drogas.
Depois de um longo período de uso, o organismo acostuma-se com a droga e, de repente quando não a tem mais, luta contra isso. E o resultado? Depende de cada caso, do tempo de uso, da droga usada (o Crack, por exemplo: o usuário sente uma vontade "quase" incontrolável de fumar uma pedra atrás da outra). Nos casos mais graves, o paciente tem convulsões, dores incontroláveis, vômitos, ânsias e mais inúmeras reações.
O fim deste túnel escuro e assombroso? Incerto. O melhor a fazer é não entrar. Mas, se a curiosidade, ou melhor, o caminho da morte venceu a razão, muita gente está disposta a ajudá-lo. Mas, a fé, a esperança, a persistência e a vontade.
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